Quero pôr pra fora o que não sei, deixar sair pelas entranhas o perigo daquilo que não foi dito. Quero beijar os lábios dela enquanto sinto suas mãos em meu rosto. Quero gritar ao mundo os detalhes de minha vida, meu passado e meu futuro.
Ainda somos os mesmos, e vivemos como nossos pais
Disse Elis Regina. Quero abraçar minha mãe e perguntar se ela já se sentiu sufocada na minha idade, se ela já sentiu que perdeu a vida logo após ganhá-la. E que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos. Quero não ser a mesma. Quero ser eu mesma, quero tirar a máscara que cobre meu rosto, quero colocar a máscara e me esconder de todos.
Gostaria de sair na chuva, de não ter a imunidade baixa, de ser imune ao medo. Hoje eu dormi em meu quarto enquanto meu amor me tentava contato, é que aqui nada pega: nem o wifi, nem a rede móvel, nem o sinal, nada me pega. Gostaria de me pegar e sacudir-me os ombros e trazer de volta pro presente e pra longe do futuro, ir direto para o futuro e saber o que me espera só para então tentar desesperadamente vivê-lo ou impedi-lo. Angustiadamente.
Detesto quando são muito positivos, odeio quando são muito negativos, repudio a falta de vontade e nego quase tudo que não tenho vontade de fazer.
Sou uma hipócrita, odeio o preconceito e o patriarcado, não simpatizo com pessoas muito extrovertidas, falo pelos cotovelos, frequentemente estou de cara fechada, odeio quando ficam de cara fechada, adoro a leveza da simplicidade e fico muito feliz quando compro um gloss novo.
Escrevo muito bem, odeio quando escrevem errado, de vez em quando escrevo errado. Reparo no cabelo dos outros, odeio que falem do meu, tenho antipatia por quem gosta de aparecer sem saber se ela quis aparecer, às vezes gosto de aparecer.
Não gosto de aparecer, odeio que me perguntem o que aconteceu, queria que alguém perguntasse o que me aconteceu, gostaria de falar sobre meu passado e odeio que toquem em um assunto do passado.
Queria focar menos nesses detalhes e mais nos detalhes das árvores, do vento, da chuva, das nuvens, dos carros que passam, das folhas que caem, nas pessoas que moram aqui perto, nas pessoas que vieram de longe, nas risadas, nas letras das músicas, no motivo, na razão, na emoção. Julgar menos o outro, ser mais simpática, nutrir menos ódio e raiva, correr menos, ir devagar, parar pra respirar.
Um dia vou viver tranquila, sair das minhas ideias. Um dia ainda vou dizer todas minhas ideias, assumir os pecados.
É que sei que a vida não se resume a sofrer, na verdade é que não sei pra que tanto sofrer, não sei pra que tanto pensar. Quero pensar menos, quero produzir menos, quero produzir mais e pensar mais arte. Quero pintar um quadro só que eu nunca pintei um quadro e eu nem sei onde se compra uma tela.
Eu tenho medo, sabe? De viver. Eu queria viver, entender que sou só mais uma pessoa tentando e ser mais honesta e gentil comigo mesma, queria falar com todo mundo quais são minhas ideias.
Quero mesmo escrever um livro.
escrevi esse texto ouvindo mpb, e as músicas me deram inspiração e vontade de viver como nunca vivi.
sua escrita sempre me toca de maneira dolorosamente linda.
adorei!! vc escreve mt bem linda